No final de 2023, Fabio Schvartsman conseguiu parecer favorável para ficar livre da ação penal que julga a morte de 272 pessoas no rompimento da barragem da Vale. Familiares das vítimas estiveram no TRF6, em BH, e entregaram pedido formal ao relator do processo, Flávio Boson Gambogi, solicitando mudança do seu voto.
Brumadinho, 9 de janeiro de 2024 – Familiares das vítimas do rompimento da barragem da Vale, em Brumadinho, entregaram hoje em Belo Horizonte uma nota pública aos desembargadores do TRF (Tribunal Regional Federal) pedindo que votem contra o habeas corpus que pode inocentar o ex-presidente da Vale no processo penal da tragédia-crime. Quase 5 anos após a tragédia ninguém foi punido pelas 272 mortes e Fábio Schvartsman tenta o trancamento da ação penal contra ele por meio de um HC (habeas corpus) que está na pauta do TRF6.
Na imagem, mães de vítimas da barragem de Brumadinho pedem voto contra HC que inocenta ex-presidente da Vale. Da esquerda para a direita, Jacira Francisca, que perdeu o filho Thiago Mateus Costa; Andressa Rodrigues, que perdeu o filho Bruno Rodrigues e Maria Regina, que perdeu a filha Priscila Elen Silva – Foto: AVABRUM
“Viemos aqui no TRF trazer uma nota técnica e um clamor para que este habeas corpus não seja reconhecido. É na Justiça que isso precisa acontecer. É dentro do processo, e não cortando caminho, da forma como o ex-presidente da Vale está tentando fazer”, afirmou Andresa Rodrigues, mãe de Bruno Rodrigues, morto na tragédia, e presidente da AVABRUM (Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão-Brumadinho).
A nota é um pedido formal para que o desembargador Flávio Boson Gambogi, relator do HC na 2ª Turma do TRF em Minas, reconsidere a possibilidade de o ex-presidente da Vale não ser julgado pelas mortes em Brumadinho. Seu voto favorável foi proferido em 13 de dezembro, mas o julgamento do HC foi suspenso porque Pedro Felipe de Oliveira Santos, desembargador revisor, pediu vistas do processo. Faltam 2 votos para a decisão final. Não há uma data definida para a continuidade da sessão.
Folder “5 anos sem justiça” – Foto: AVABRUM
Rosas no clamor por justiça
Além de Andresa, foram ao STF Maria Regina Silva, mãe Priscila Elen Silva, e Jacira Costa, mãe de Thiago Costa, todas da diretoria da AVABRUM. Elas visitaram todos os gabinetes do TRF6 para entregar a nota técnica e fazer o pedido contra o parecer favorável a Fábio Schvartsman.
Rosas representando as vítimas – 269 vermelhas e 3 brancas, simbolizando as 3 ainda não encontradas – foram distribuídas em uma manifestação na frente do TRF que se estendeu até a Praça Sete. O público também recebeu um folder com a mensagem da AVABRUM “5 Anos Sem Justiça”.
“A entrega das rosas vem com um convite para que as pessoas participem do nosso movimento contra essa injustiça que ocorre há 5 anos sem julgamento de ninguém”, disse Dona Regina, que se emocionou ao ver o acolhimento das pessoas. “Juntos, conquistamos apoio nessa batalha por justiça, memória e direitos dos familiares”, disse.
Luta também por um futuro melhor
Dona Jacira disse que, quando a população é abordada pelos familiares, entende a luta da AVABRUM. “As pessoas, às vezes, nem sabem o que houve em Brumadinho. O que elas sabem é através da mídia, mas nós, que somos os familiares, conseguimos conversar com as pessoas, elas percebem a injustiça que é isso e entendem a brutalidade do crime”, afirmou. “Nossa luta não é só por nós. Nossa luta é por um futuro melhor. Não queremos que aconteça com mais ninguém o que aconteceu com a gente”, disse a mãe de Thiago.