Os familiares das vítimas do rompimento da barragem I, em Brumadinho, definiram no último dia 26/03/2020 o projeto arquitetônico do Memorial, a ser construído no Córrego do Feijão. A escolha foi realizada por meio de uma assembleia online – devido à necessidade de isolamento social em virtude da pandemia do COVID-19.
Em parceria com as entidades que acompanham o projeto do Memorial, entre elas o Governo de Minas e Ministério Público, em definição conjunta com a Avabrum, foi elaborado um Termo de Referência, que permitiu a contratação de quatro projetos pela Vale. Pelo escopo, o projeto selecionado deveria conter uma arquitetura de caráter público, que estimulasse o convívio entre pessoas de diferentes perfis e idades, e que possa ser apropriado pela comunidade para realização de diferentes atividades.
O processo de seleção contou com o apoio e consultoria externa aos membros da AVABRUM, da arquiteta e urbanista Jurema de Sousa Machado, presidente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), entre 2012 a 2016; e do museólogo Marcelo Mattos Araujo, presidente do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram), de 2016 a 2018.
Dois projetos foram pré-selecionados e levados à votação dos familiares, com início no dia 25/03/2020 as 20:00h, um assinado pela arquiteta Maria Paz de Moura Castro, conhecida pelas obras do restaurante Oiticica e da Galeria Tunga do museu Inhotim; e outro pelo arquiteto Gustavo Penna, que assina obras como o Museu de Imigração Japonesa, em São Paulo, a Galeria Wals, em Belo Horizonte; e o Museu de Congonhas. A proposta de Gustavo Penna foi a escolhida, com 62,1% das 2.323 respostas obtidas.
O Projeto
O Memorial será construído em um terreno de 8 hectares (incluso área de preservação) escolhido pela Avabrum e já adquirido pela Vale. Ele contemplará um hall para exposição das memórias das vítimas e um espaço meditativo e contemplativo, que inspire uma livre utilização individual ou coletiva. Haverá também jardins, espaços de convivência e um monumento em homenagem às vítimas.
Do ponto de vista arquitetônico, o projeto pretende dotar o local de um espaço que permita a reconstrução da vida de forma esperançosa. Será um marco na vida de todos os familiares e um símbolo pela honra e dignidade das 272 vítimas da tragédia, para que o Brasil e o Mundo não esqueçam. Para que Brumadinho torne-se um exemplo de modelo de mineração a não ser seguido por nenhuma empresa do mundo.
Além disso, o projeto deverá demonstrar, por meio de sua arquitetura, uma preocupação com o uso dos recursos naturais e a escolha dos processos construtivos que priorizem soluções e métodos que estejam de acordo com os princípios contemporâneos de sustentabilidade ambiental.
Segundo Gustavo Penna, “a nossa tarefa face à realidade da dor das famílias nos coloca em uma posição de profunda humildade. A voz, a única voz, é a das testemunhas. A narrativa pertence a quem não pode mais falar e àqueles que ficaram no pesar. Não há consolo que possa ser materializado nessas circunstâncias. Resistimos ao apagamento do tempo e da história. Que tragédias assim não se repitam, jamais. Este espaço vai possibilitar uma experiência sensível, individual e compartilhada, com gente que vive um estado de suspensão e sofrimento, dando voz e forma àquilo que não esquecemos”, afirma o arquiteto, que é membro do Conselho Curador da Fundação Oscar Niemeyer e da Fundação Dom Cabral.
Imagens do Projeto vencedor do arquiteto Gustavo Penna