Ainda estamos estarrecidos com a notícia do habeas corpus. Nos sentimos desamparados, decepcionados e abatidos”, disse representante dos familiares das vítimas.
Brumadinho, 25 de março de 2024 – No início da tarde de hoje, dia em que se completa 5 anos e 2 meses do colapso da barragem da Vale em Brumadinho, mais um ato por justiça, encontro de Tiago Silva, Maria Bueno e Nathália Araújo, três vítimas ainda não localizadas, memória, direito dos familiares e não repetição do crime, que ceifou 272 vidas, foi realizado pelos familiares das vítimas em frente ao letreiro de Brumadinho.
Revolta e impunidade
Logo no início do ato, os familiares lamentaram a atitude da justiça brasileira ao conceder, no último dia 12/03, habeas corpus ao ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, mesmo com todas as provas oficiais que apontam que o ex-CEO sabia do risco do rompimento, mas nada fez.
“Nós vamos continuar a buscar pela justiça, nossa voz não será silenciada. A decisão dos desembargadores de conceder habeas corpus ao ex-presidente da Vale é uma afronta a todo processo de investigação realizado pela Polícia Federal, Ministério Público, CPIs, e pelos familiares da vítimas”, disse Josiane Melo, da diretoria da AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão-Brumadinho), que perdeu a irmã Eliane Melo, grávida de 5 meses no desastre-crime da Vale.
“Infelizmente, nós temos um direito penal que parece punir apenas os pobres, e não responsabiliza pessoas ou empresas com poderes aquisitivos, que colocam o lucro antes da vida”, afirmou.
272 joias presentes
Durante a ação, também houve a chamada dos 272 nomes das vítimas da tragédia-crime e, para cada um, o grito de “presente”. Às 12h28, horário em que a barragem rompeu no dia 25 de janeiro de 2019, os familiares deram as mãos e fizeram um minuto de silêncio, rezando o Pai-Nosso na sequência.
A apresentação musical de Clara Moreira, de 8 anos, juntamente com a dupla Hugo e Cristiano, da cidade de Mário Campos, emocionou os presentes com a música “Estrelinha”, de Marília Mendonça.
Homenagens
Durante o ato, Kenya Paiva Lamounier, que perdeu o marido Adriano Lamonier na tragédia-crime, e as mães Andresa Rodrigues, que perdeu seu filho Bruno Rodrigues, e Maria Regina, que perdeu sua filha Priscila Elen Silva, lembraram e homenagearam suas joias que fariam aniversário neste mês. Em meio às lágrimas, Andresa leu um texto que ela mesmo escreveu para homenagear seu filho, e cada vítima que faria aniversário neste mês. O texto é intitulado “Carta para o Bruno”.
Justiça
No final da ação, Maria Regina, mãe de Priscila, que trabalhava na Vale como técnica em manutenção, falou sobre os próximos passos da AVABRUM com a justiça. “Nós vamos aguardar que o Ministério Público apresente recurso contra a decisão da turma do TRF6 (Tribunal Regional Federal da 6a Região) a favor do habeas corpus concedido ao ex-presidente da Vale, pois houve uma falha. E se houve uma falha, nós vamos procurar corrigir”, afirmou.
AVABRUM
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