“De que lado os promotores, os ministros, os juízes, os defensores, querem ser lembrados? Do lado da justiça ou do lado da impunidade?”, questiona representante da AVABRUM, durante painel sobre extrativismo predatório em Harvard, nos EUA.
Brumadinho, 22 de abril de 2024 – Passados 5 anos do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, a falta de justiça, o trauma, as negligências, os impactos físicos e mentais e no meio ambiente, que ainda estão presentes na comunidade, foram temas dos painéis “Extrativismo Predatório: As Maiores Catástrofes de Mineração do Brasil em um Contexto Global”, que aconteceu na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, entre os dias 11 e 12 de abril.
Com a participação da AVABRUM (Associação dos Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego do Feijão-Brumadinho), os painéis se concentraram nos piores desastres ambientais e humanitários do Brasil, ambos resultantes de rompimentos de barragens de rejeitos de mineração: a barragem de Fundão, operada pela Samarco (joint venture entre BHP e Vale), em 2015; e a barragem 1 da Mina Córrego do Feijão, em Brumadinho, da Vale, em 2019, as duas no estado de Minas Gerais.
A presidente da AVABRUM, Andresa Rodrigues, que perdeu seu único filho, Bruno Rodrigues, na tragédia-crime da Vale em Brumadinho, ressaltou a importância de a Universidade de Harvard dar voz aos familiares para falar sobre as consequências do crime da Vale.
“Fazer esse debate nesta universidade é uma forma de ajudar a luta dos familiares, e incentivar fiscalizações efetivas em todos os lugares ao redor do mundo. Precisamos formar profissionais que tenham, além de conhecimento, responsabilidade com a vida. Profissionais que, ao se depararem com negligências em seu local de trabalho, possam fazer denúncias sem se sentirem ameaçados. Em Brumadinho, com as apurações das investigações, ficou constatado que os profissionais sabiam do risco, mas mesmo assim nada fizeram”, disse a mãe de Bruno.
Andresa, em um dos painéis, também ressaltou a questão da justiça. Até hoje ninguém foi responsabilizado pelo rompimento da barragem: “De que lado os promotores, os ministros, os juízes, os defensores, querem ser lembrados? Do lado da Justiça ou do lado da impunidade? A história deixará claro o lado que essas pessoas se posicionaram”, afirmou. Rompimentos de barragens em Minas Gerais vem matando desde 2001, veja a linha do tempo abaixo:
- 2001- Macacos – 5 vidas perdidas
- 2014 – Itabirito – 3 vidas perdidas
- 2015 – Mariana – 20 vidas perdidas
- 2019 – Brumadinho – 272 vidas perdidas
Além dela, representou a AVABRUM em Harvard Alexandra Andrade, que perdeu o irmão, Sandro Andrade Gonçalves, e o primo, Marlon Rodrigues Gonçalves, enterrados na lama da barragem. Alexandra, durante o evento, falou sobre a importância da luta da associação e da saúde mental dos familiares.
“A gente luta por justiça pelas 272 vítimas fatais dessa tragédia-crime que poderia ter sido evitada. Até hoje ninguém foi responsabilizado. O ex-presidente da Vale, Fabio Schvartsman, mesmo com todas as provas das investigações oficiais de que ele e outros 15 réus sabiam dos riscos mas nada fizeram, recebeu no último mês pela justiça, um habeas corpus. Muitos familiares estão adoecidos, muitos nunca haviam ido ao um psicólogo, e hoje vivem à base de remédios controlados, e isso inclui crianças e adolescentes. Existem casos de autoextermínio de diversas faixas etárias. Os familiares sofrem com a falta de justiça, e muitos estão morrendo de tristeza, com essa espera.
Nos dois dias de encontro, os painéis de debate abordaram o trauma das comunidades afetadas, a saúde física e mental impactadas pelo crime, as narrativas e territórios controlados pela mineradora e a longa espera pela justiça.